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terça-feira, 6 de setembro de 2011

Cocô de Passarinho


Um dos participantes da minha última oficina de Jardinagem Agroflorestal compartilhou conosco sua indignação com o corte sistemático das árvores da Asa Sul. O motivo dos cortes? As folhas que sujam o chão (!) e os cocôs de passarinho que caem sobre os carros!

Noooossa!!!
Que sociedade é essa em que a pintura de um carro vale mais do que uma espécie de passarinho? Em que um objeto vale mais do que a vida? Em que prefere-se que o carro queime ao sol do que correr o risco dos passarinhos sujarem-no com seu infame cocô dispersor de sementes? Será que tem-se consciência de que sem as árvores os passarinhos desaparecerão (ou, pelo menos, a maior parte deles espécies)? Será que é um desejo consciente de eliminar os passarinhos de nossa vida humana?

Lembrei-me de outra estória. Fui a uma funilaria certa vez e vi que havia muitos carros. Perguntei: “Muito serviço, né? Muitos acidentes?”. E o funileiro me respondeu: “Não... a maior parte está aqui para fazer a pintura do teto. Estou nisso há 30 anos e nunca vi a pintura queimar tanto com o sol. Ou a pintura é mais vagabunda ou o sol está mais forte.”

Quanta gratidão devemos ter àqueles que, de forma visionária, plantaram tantas árvores no Plano Piloto que, graças a isso, é uma das áreas urbanas mais arborizadas do Brasil! Mas daqui para a frente, corremos o risco de não fazer o mesmo para os que virão depois de nós. As árvores adultas estão sendo cortadas sistematicamente e não há árvores novas para repor as que se vão. Ao mesmo tempo (e por causa disso), o sol está cada vez mais escaldante...

A solução apontada pela sociedade da tecnologia? Construir cada vez mais prédios altamente climatizados onde estacionaremos nosso carro em conforto e segurança.

Estamos exatamente em um desses momentos em que o livre-arbítrio nos permite escolher destinos: um mundo de concreto e cimento armado, aço e vidro, hermeticamente fechado contra o calor lá de fora e onde viveremos (o ser humano) sem o incômodo de nenhuma outra espécie a nos chatear ou ameaçar. A outra opção? É a de aceitarmos agradecidos de que não somos a única espécie nesse planeta lindo e que a boa convivência entre nós e as outras depende de as aceitarmos em nossas vidas, em nosso cotidiano. É a de repensarmos o que realmente é importante, de darmos valor ao que tem valor. Para isso, talvez precisemos nos acostumar com os cocôs dos pássaros, com as folhas adubando o solo, com insetos e pequenos seres decompondo a serapilheira do nosso jardim, com bichos diversos visitando a nossa horta e o nosso pomar.  Quem sabe até possamos passar a desejar essa visita e a nos alegrar por não vivermos sozinhos sobre a Mãe Terra.  

Um comentário:

  1. Pois é, Helena! nós seres humanos temos muito que mudarmos, qualquer matinho diferente tem que ser arrancado pelas raizes. Estamos nos afastando cada vez mais desta natureza, as religiões nos ensina que somos filhos de Deus, e deus é poderoso sobrevive sem a natureza. O céu é aqui! se amarmos um capinzinho, uma formiguinha, um passarinho, um beija flor e tantas outras milhares e milhões de espécies, estaremos mais próximo da preservação desta nossa NATUREZA! Parabéns, o mundo precisa cada vez mais de pessoas como você.
    Geraldo Toledo

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