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segunda-feira, 25 de abril de 2011

A Primeira Oficina de Jardinagem Agroflorestal em Abaetetuba...

... foi linda!
Magicamente, formou-se um grupo de pessoas tão especiais que a Oficina seguiu fluida e alegre do começo ao fim. Muitos e muitos aprendizados e encantamentos. Teoria e prática, movimento e reflexão, observação e ação. Eu me sentia plena de felicidade, inspiração e criatividade. 
Minha gratidão aqueles que fizeram essa experiência possível, os participantes. 
Minha gratidão aos meus amigos Sérgio e Fabiana, que vieram dar uma força. Graças à Fabi, pudemos compartilhar de um delicioso banquete agroflorestal cheio de petiscos com ingredientes do quintal.
Vejam nossa alegria nessa foto da Kenia Ribeiro que, junto com a foto, nos enviou a seguinte mensagem: 

"Amigos, segue uma recordação do nosso agradável final de semana.
Estou colocando em prática o conhecimento. O dedo já está esfolado de tanto picotar e podar.
Obrigada Helena! Um abraço fraternal a todos." 



Foi tão maravilhoso que já marquei da Segunda Oficina. Quem sabe o pessoal da lista de espera se anima!
Será nos dias 9 e 10 de julho. Divulguem... 


segunda-feira, 18 de abril de 2011

Lagartas

É tempo de lagartas em Abaetetuba!
Responsáveis e trabalhadeiras, elas podam as minhas plantas antes da seca, adubam a terra e enfeitam meu jardim. Como se isso não bastasse, depois ainda viram borboletas!
Algumas são totalmente inofensivas. Outras, são tão ornamentadas que nos perguntamos a quem querem impressionar com tantos microdetalhes artísticos. Um desbunde de diversidade de formas e cores! Elas me fazem lembrar de quando o Pequeno Príncipe fala dos espinhos das rosas e de sua utilidade: "Elles se croient terríbles avec leus épines!" (Elas se acham terríveis com seus espinhos). E de quando sua rosa o consola sobre o perigo das lagartas quando ele se for: "Il faut bien que je supporte deux ou trois chenilles se je veux connaître les papillons." (Eu tenho que aguentar duas ou três lagartas se quiser conhecer as borboletas.).
Que rosa sábia!
Uma pequena amostra do que encontrei por aqui:

Vejam a delicadeza dos desenhos... quem querem impressionar com toda essa arte?
Essa adora folhas de maracujá. Deve ser bem calminha...

Lagarta ou chumaço de algodão?

Escandalosa!

Uma semana com a pele ardendo depois de encostar nessa. Ela sabe se defender.

Achei que eram folhas de cajueiro, mas eram folhas de um certo ipê do Cerrado!

Essa é enorme e adora as folhas do jasmim manga. 

Delicada, totalmente inofensiva

Assustadora, né? Igualmente inofensiva

Agora, uma que foi flagrada em outro lugar: Vila das Crianças. Durante uma oficina, uma das alunas veio me mostrar o que havia encontrado... ela sabe que eu amo lagartas!


quinta-feira, 14 de abril de 2011

Agrotóxicos




A questão do uso de agrotóxicos foi uma das minhas primeiras inquietações quando entrei no curso de agronomia, em Belém do Pará, em 1987. Nunca pude compreender a lógica do uso de venenos na agricultura. Sempre achei absurdo e desnecessário. Sempre me pareceu uma aberração jogar na natureza um produto que que tem como objetivo matar a vida ali existente. Eu nunca poderia ter receitado um agrotóxico uma única vez a um agricultor. Nasci de um pai ecologista. Talvez tenha sido influência dele. Meu pai, um visionário, já falava, quando eu era criança, da memória da água e dos perigos do amianto. Foi na sua estante que encontrei o livro do Lúcio Flávio Pinto sobre o projeto Jari, assim como o livro do Sebastião Pinheiro chamado "Tucuruí, o agente laranja em uma república de bananas", livros que fizeram parte da minha formação intelectual e militante.

Foi assim que, na minha primeira semana na universidade, quando entrou em minha sala de aula um moço da Federação dos Estudantes do Brasil falando sobre agricultura alternativa, feita sem o uso de agrotóxicos. Encontrei minha tribo. Isso fazia todo sentido para mim. Fui para o histórico terceiro EBAA (Encontro Brasileiro de Agricultura Alternativa) e entrei no movimento contra o uso de agrotóxicos para nunca mais sair. Fiz estágio com controle biológico. Estudei o funcionamento das florestas tropicais. E, finalmente, encontrei a Agrofloresta.
Passaram-se 24 anos e o mesmo moço, da boca de quem pela primeira vez ouvi falar de agricultura alternativa, me escreve uma mensagem na qual me pergunta se eu acho mesmo que é possível produzir alimentos para toda a humanidade sem o uso de insumos químicos e se eu acredito que a agricultura familiar sozinha pode dar conta dessa produção. Ele havia esquecido. Como muito... milhares... milhões que andam por aí pelos shoppings, pelas avenidas, pelos escritórios... milhões que também se esqueceram.

Vamos encarar a verdade. Não se trata do que virá, já é o agricultor familiar que coloca comida na mesa dos brasileiros. Os dados são oficiais. A agricultura familiar é responsável por no mínimo 10% do PIB agrícola e por colocar até 60% do que está no prato do brasileiro, ocupando algo por volta de ¼ da área agrícola do país. Nós não comemos soja ou cana-de-açúcar. Eu não como carne. Em 1 hectare de floresta de produção (agrofloresta) é possível colher mais de 9 toneladas de pupunha. E de soja? Quantos quilos você colhe? Um terço disso? Haja insumo... E carne? Quanto você consegue por ano em 1 hectare? Vi números na internet que giram em torno de 40 quilogramas por hectare por ano em sistemas de alta produtividade!!! Pois bem, na floresta de alimentos, além das 9 toneladas de pupunha (que, diferentemente da soja, é alimento da melhor qualidade nutricional), você vai colher mais umas 30 toneladas de mandioca, feijão, milho, abacate, manga, cupuaçu, café, acerola, goiaba, graviola e todas as frutas e castanhas que quiser.... e tudo isso sem um único grama de agrotóxico, como muitos agricultores e agricultoras estão mostrando em vários cantos do Brasil.

Há duas questões que considero muito relevantes nesse debate.

A primeira diz respeito à dieta. Teremos uma agricultura natural e diversificada quando abrirmos mão de nossa dieta à base de carne, trigo, laticínios, açúcar e comida sintética. Não é preciso eliminá-los totalmente, mas esses produtos não podem representar até 90% da nossa dieta como atualmente acontece. É claro que as indústrias da soja, da carne, da importação de trigo, da cana-de-açúcar ficarão bastante bravas e farão de tudo para nos convencer a não fazer isso, o que estão conseguindo com tanto sucesso que até achamos natural! Afinal, a quem interessa uma agricultura diversificada, de base familiar, agroecológica e sustentável? Quem vai ganhar dinheiro no dia em que 90% da dieta do brasileiro comum for composta por mandioca, cará, batata-doce, verduras, frutas e legumes orgânicos?

Tem mais... sabe quantas espécies de seres vivos existem em 1 hectare de soja, cana-de-açúcar ou milho convencional? Uma única. Porque todas as demais sucumbiram sob chuvas de agrotóxicos. E sabe quantas espécies de seres vivos podem ser encontradas em um hectare de floresta de alimentos: incontáveis, milhões, inumeráveis... isso sem falar do pulular de vida, do cheiro da floresta, da beleza, das cores, da sombra, da água pura e abundante e do carbono todo... ali... estocado e tornado vida...

Por tudo isso, convido-o visitar o site da Campanha contra o Uso de Agrotóxicos e pela Vida:

Participe!



domingo, 3 de abril de 2011

Obsolescência*

Vejam o que encontrei sobre obsolescência no site (http://www.administradores.com.br): A obsolescência consiste em inutilizar um produto ou serviço pelo avanço de outros (...) Pode ser técnica ou funcional, planejada ou perceptiva (...) É considerada o motor do consumismo (...) Sem ela haveria um número extremamente menor de vendas de produtos ou serviços e, consequentemente, uma redução brusca do faturamento das organizações (...)  A obsolescência é fundamental para a economia. Victor Leboux, analista de vendas e conselheiro econômico do presidente americano Dwight Eisenhower, articulou a principal estratégia para reerguimento da economia depois da Segunda Guerra Mundial, dizendo que: “A nossa enorme economia produtiva exige que façamos do consumo o nosso modo de vida, que tornemos a compra e uso de bens em rituais, que procuremos nossa satisfação espiritual, a satisfação do nosso ego, no consumo. Precisamos que as coisas sejam consumidas, destruídas, substituídas e descartadas em um ritmo cada vez maior”.  São trechos do texto de Gustavo Lincoln Ricardo Pimenta. Gustavo termina o seu texto dizendo que a obsolescência é uma oportunidade para as indústrias e que deve ser feita com certos cuidados para que a empresa não denigra sua própria imagem!

E o outro lado da estória?
A obsolescência (planejada, técnica ou perceptiva) é uma irresponsabilidade humana que coloca os interesses do dinheiro acima de qualquer outra coisa, da ética com o planeta, da perspectiva de futuro para a própria humanidade, do respeito com o consumidor, da educação das futuras gerações e assim por diante.

Obsolescência planejada é um laptop ser construído para durar 3 anos. A partir desse tempo, começa a dar pau. As impressoras são planejadas para durar aproximadamente 2 anos. Depois disso, elas simplesmente resolvem não imprimir mais. Você leva a sua na autorizada e eles não consertam nada, simplesmente reprogramam-na para que ela dure mais algumas impressões e depois travar novamente. Essa brincadeira vai ficando tão cara, que o melhor acaba sendo jogá-la no lixo e comprar outra. Obsolescência planejada também é quando aquela peça que não funciona mais da máquina de lavar roupas custa quase o preço de uma máquina nova. Nem se acha mais quem troque leitor de CD porque não compensa. Temos que trocar o aparelho de som inteiro!

Obsolescência perceptiva é quando uma amiga entra na sua sala e acha cafonérrima aquela TV enorme, mesmo que ela funcione perfeitamente bem. “Você não tem TV de plasma???? Oh!.....”. Também é quando aquela calça lindíssima 6 meses atrás faz todo mundo te olhar de alto a baixo e ter pena, mesmo que seja apenas a terceira vez que você a use.

Obsolescência técnica é esse sucessivo lançamento de celulares ultra-super-mega modernos a cada dois meses fazendo com que você se sinta sempre e sempre defasada, mesmo que você nunca vá ter tempo de usar todos os cinco mil recursos que ele tem e vá somente ligar e receber ligações.

O marketing para fazer a obsolescência parecer normal é tão eficiente, que nos sentimos menores e culpados se não estamos sempre na crista da onda. Teremos sempre mil respostas na ponta da língua para explicar por que trocamos de celular, geladeira ou estante da sala mesmo que tudo funcionasse perfeitamente bem. Pior é quando não funcionam mais e temos que trocar tudo mesmo quando sabemos do impacto absurdo causado pela troca da casa inteira a cada três anos por cada consumidor do planeta  (geladeira e todos os eletrodomésticos, televisão, computador e todos os eletrônicos... isso sem falar do guarda-roupas, que tem que ser renovado a cada nova estação).

Quando assistimos a filmes como “Home”, nos chocamos diante da imagem daqueles tratores gigantescos, do tamanho de um prédio, esburacando o mundo às toneladas por segundo e formando crateras do tamanho de cidades inteiras para extrair do seio da Mãe Terra a bauxita, o cobre, o níquel e tudo o mais. Diante dessa imagem, temos pena e não a associamos à TV de plasma de 40 polegadas na qual o estamos assistindo. Também deletamos da nossa mente, no momento exato em que estamos no caixa pagando, felizes da vida, a nosso novíssimo micro-ondas que vai substituir aquela velharia que não combina com nossa nova cozinha, a imagem das montanhas de lixo que se formam em lugares longe dos nossos olhos e narizes para onde o nosso velho micro-ondas vai parar.

O que fazer para não nos tornarmos reféns e cúmplices desse sistema perverso? Talvez mudar o foco da nossa atenção do Ter para o Ser. Talvez cuidarmos das nossas coisinhas com tanto amor e carinho que elas durem muito mais do que foram planejadas para durar (lembram de Blade Runner?). Talvez nos conectarmos mais intensamente com a natureza, com a Mãe Terra e lembrarmos que recursos dela são arrancados a cada nova compra que fazemos e que lixo se acumula nas suas artérias cada vez que jogamos algo fora. Que a seja dada sabedoria à humanidade e justiça para todos os Seres da Família Planetária! 


* Texto originalmente publicado no "Deusa Viva", jornal mensal da Teia de Thea