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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Chegou Novamente a Primavera!



O quintal está em festa. Chuva de verão no Equinócio de Primavera. Chuva de verdade, de gota grande que molha o chão e que lava as folhas revelando no dia seguinte o verde brilhante que estava escondido sob a poeira da seca.

O dia seguinte: Passarinhos diversos e muitos gritam, cantam, berram e chamam sem descanso por seu par. Também chamam a mim e vou lá ver o que acontece... Logo cedo, descobertas incríveis! As helicônias insinuam suas flores vermelhas bebida de beija-flores. O ingá insinua seus frutos. Cores por todos os lados. Flores e plantas crescem a olhos vistos. Levo um susto. A pitangueira ficou mocinha! Pela primeira vez, mostra suas pequenas e delicadas flores brancas. Quem sabe ela percebeu que sua mãe morreu e resolveu assumir a produção de pitangas deste ano! De tarde, mais uma surpresa: as helicônias exibem suas inflorescências vermelhas matinalmente só insinuadas.

Janaína pergunta: “você gosta mais do inverno ou do verão?”. Minha amiga, com quem conversamos, responde: “aqui em Brasília, prefiro o inverno”. Não me lembro como a conversa continuou, mas de repente ouvi Janaína dizendo: “... no verão faz frio e no inverno faz calor”. Alto lá! Que susto. Minha filha de nove anos não saber ainda o que é inverno e o que é verão. “não filha... é ao contrário!”. “Mas mãe, é inverno e está muito calor!”

Pois é, apesar de tudo estar muito bagunçado e no inverno fazer tanto calor, me sinto invadida por confiança e fé com o início dessa Primavera com cara de Primavera, com sintomas de Primavera, com indicadores de Primavera. Quem sabe um novo tempo já anunciado começa a acontecer ao mesmo tempo em que o caos parece se instalar! Torço para que sigamos assim, reconhecendo as estações do ano, das quais toda a natureza é dependente. Dois graus de diferença nas máximas e mínimas podem representar o fim de uma espécie em algum lugar. Muitas plantas necessitam de temperaturas que atingem um mínimo nas noites de inverno para florescerem, outras precisam da combinação entre uma determinada temperatura e um determinado comprimento de dia. A natureza é de uma enorme complexidade delicada, intrincada, de precisão milimétrica que se construiu ao longo de milhões e milhões de anos a partir da relação entre os seres e desses com os ritmos da terra e do céu. Em co-evolução, espécies de plantas, bichos e microorganismos foram, ao longo do tempo, construindo sistemas, mecanismos e estratégias que permitiram com que se estabelecessem, se multiplicassem e deixassem descendentes em um processo que envolveu e envolve milhares de variáveis dificilmente compreendidas por nossos sistemas científicos baseados na fragmentação do conhecimento.

Não sendo possível tudo compreender, resta-nos aceitar e respeitar a inteligência da natureza, seguir seus fluxos, utilizar de todos os nossos sentidos para agirmos no sentido de ajudar, proteger, perpetuar... ter sempre em mente fazer parte desse sistema vivo complexo e vibrante ao invés de querer controlá-lo.

Quem sabe assim nossos netos e bisnetos não se confundam mais sobre se faz calor no inverno ou no verão.