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sábado, 10 de março de 2012

Trailer do Filme: "Agricultores e Agricultoras que Plantam Árvores no Cerrado"

Estão prontos!
O trailer e o filme. 
Um filme sobre pessoas incríveis que há milênios permitem que possamos ter comida na mesa. Minha homenagem aos agricultores e agricultoras que, com sua sabedoria, seu trabalho e sua criatividade vêm mantendo a diversidade de vida em tantos lugares, recuperando florestas, protegendo rios e bichos. Ao longo dos milênios, foram eles que, plantando e colhendo, geração após geração, selecionaram as melhores variedades de plantas para cada lugar e para cada uso e geraram uma imensa diversidade de sementes que hoje sustentam a humanidade.
Neste filme, compartilham experiências no plantio de árvores e agroflorestas no Cerrado em um evento organizado pelo ISPN (Instituto Sociedade, População e Natureza) e pela Embrapa Cenargen. Filmei graças ao convite da Isabel, do Daniel e da Fabiana. Obrigada aos 3, por tornarem esse filme possível. 

O trailer você pode ver aqui. 


Se quiser assistir o filme inteiro, me avise (helena@mutiraoagroflorestal.org.br) que envio uma cópia pelo correio. Em Brasília, o lançamento será em breve!

sexta-feira, 9 de março de 2012

Transgênicos: Liberdade de Escolha?*

Saí para comprar ração para o meu cão e, surpresa! De repente, da noite para o dia, não encontro mais nenhuma ração sem aquele T no triângulo amarelo que indica a presença de Transgênicos. Nenhuma! Não tenho mais opção. Essa que eles alegam que é nossa. “Quem não quiser transgênico vai poder optar”. Um amigo me enviou um email indignado. Não conseguia mais encontrar milho para cuzcuz que não fosse transgênico! De novo. Não temos mais opção. 

O site Campo Vivo celebra a notícia: “Semente transgênica já é maioria também na agricultura familiar”. Oh! Que tragédia! Como celebrar o fato de que os agricultores familiares não têm mais opção? Que estão sendo abdusidos por um modelo de mundo que pretende extingui-los? As empresas dizem que “a semente transgênica é uma das opções dos agricultores”. Mas não dizem que o milho é uma espécie de cruzamento aberto e livre, cujo pólen é dispersado pelo vento. Muitas espécies de plantas são assim. Desenvolveram, ao longo de milhares de anos, estratégias engenhosas para privilegiar a fecundação entre diferentes indivíduos (cruzada) em detrimento da autofecundação (quando uma planta fecunda a si mesma). Por que elas fizeram isso? Porque a diversidade proporcionada pelo cruzamento entre diferentes indivíduos de uma espécie é que faz a evolução andar, que permite que continuemos nos adaptando às mudanças. Quanto mais ampla a diversidade de uma espécie, maior a probabilidade de haver indivíduos que se adaptam a diferentes situações do ambiente. Diminui, portanto, a probabilidade da espécie se extinguir. Sempre haverá uma opção, uma combinação genética, um indivíduo que dará conta de continuar vivendo naquele ambiente em mudança. Vejam que, entre os animais, o cruzamento entre macho e fêmea é a regra geral. Lembremos que quando uma espécie se extingue, é pra sempre. Não há volta. É uma decisão bem radical que a humanidade está tomando quando decide uniformizar dessa maneira absurda as plantas das quais nos alimentamos. Os transgênicos, entre muitas outras coisas das quais posso falar em outros textos, têm como característica a uniformidade genética. As empresas argumentam que há diversas variedades disponíveis. Quantas (talvez algumas dezenas) comparadas às bilhões de combinações genéticas possíveis nas variedades crioulas? Variedades que agricultores e agricultoras que são pesquisadores inteligentes e sagazes vêm cultivando, guardando, cuidando, cruzando, trocando... há milhares de anos (estima-se que o milho, por exemplo, vem sendo usado por populações humanas há cerca de 7.000)

O milho é uma espécie que evoluiu, nos últimos milênios, em um ambiente social e cultural que cuidou manter a sua diversidade genética e que selecionou dentro da grande diversidade disponível, as diferentes plantas adaptadas às centenas, talvez milhares de usos que dele populações de boa parte do mundo fazem. Porque o milho é uma espécie tão dadivosa que se espalhou por toda parte e se infiltrou em todas as culturas.

Além do milho ser uma espécie de fecundação aberta e livre, seu pólen pode ser levado pelo vento a milhares de quilômetros. Não há, praticamente, barreiras que possam impedir o pólen de uma plantação de milho transgênico de contaminar uma lavoura de milho crioulo de um agricultor familiar orgânico, mesmo que essas propriedades estejam a uma distância enorme uma da outra.

As empresas dizem que já existem mais de 30 milhões de hectares de transgênicos plantados em solo brasileiro. Boa parte disso é milho, que é plantado de norte a sul, leste a oeste. Deve ser bem difícil achar um agricultor familiar que não tenha algum vizinho que plante transgênicos. Então qual é a liberdade de escolha que tem esse agricultor familiar se o pólen trangênico que vem do seu vizinho contamina sua lavoura? De vizinho em vizinho, os transgênicos vão se espalhando e contaminando. Deixando o agricultor sem opção. Ele corre, inclusive, o risco de ser processado pelas empresas por uso indevido da sua semente transgênica se for encontrado o gene do milho transgênico em sua colheita.

Quando o código genético de uma espécie é contaminado por um gene, esse passa aleatoriamente para os descendentes na reprodução. Não há como despoluir um código genético como podemos fazer com uma praia na qual foi derramado petróleo (vejam que comparei com algo já bem difícil de se recuperar).
Então, esteja consciente de que, quando você compra algo com um T dentro de um triângulo amarelo na embalagem está financiando esse sistema que impede aos agricultores a liberdade de escolha, a autonomia, a independência. Quando as vendas dos produtos com transgênicos aumentam (afinal, temos cada vez menos opção), as empresas celebram a livre escolha dos consumidores pelos produtos transgênicos. Livre escolha? Então onde posso encontrar uma ração não transgênica para meu cão?

* Originalmente publicado na edição de Março de 2012 do Jornal Deusa Viva, da Teia de Thea.