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terça-feira, 21 de agosto de 2012

Manejo Agroflorestal do Quintal: um mutirão agroflorestal inesquecível

Aconteceu no domingo, dia 19 de agosto de 2012. Um domingo perfeito com pessoas lindas e incríveis. Mas... vamos às fotos: 


Os meninos chegaram cedo... loucos para podar tudo, cheios de energia e alegria. Iago, Demétrio, Lucas e Tarcísio. Nessa foto, acho que Tarcísio e Iago nem sabiam que estavam sendo fotografados. Os sorrisos são de verdade! Pedi que escolhessem onde queriam manejar. Escolheram esse lugar, embaixo do abacateiro, forrado de helicônias velhas. Pronto. Começou a cortação geral... Importante: picar bem e deixar tudo arrumadinho, encostadinho no chão, bem espalhado, cobrindo bem o solo. Nesses tempos de seca, o negócio é deixar a terra protegida. E, também, prestar bem atenção para não cortar nem pisar nos bebês de árvores espalhados pelo quintal. 


Olha aí o Lucas e o Tarcísio trampando firme. Bonito de ver!


Esse foi o grupo da manhã. Nesse momento, no meio do dia, alguns já tinham que ir. Outros chegariam em breve. Da esquerda para a direita, de cima para baixo: Tarcísio (moço sorridente e silencioso), Armin (que deu um trampo incrível!), Lucas (moço sensível), Loise e Leo (visitantes de primeira viagem, adorei terem vindo; grata pela sacola de sementes... que presentaço!), Lena, Araci (cujas palavras me emocionaram muito logo na roda de abertura), Iago (o tarzan do dia), Mônica, Demétrio (o ajudante de tarzan), Helena (eu) e Aline (amiga querida cada dia mais linda). Inclusive, a Aline e o Guilherme foram os responsáveis, junto do a Lena, pelo almoço espetacular que deu o tom de saciedade e abundância à oficina. Gratidão eterna. Aqui nessa foto de baixo, a Aline e o Guilherme abrem castanhas para o delicioso molho pesto que prepararão para nós em seguida.



Enquanto isso, Isabela, a filha do casal, livre, leve e solta, explora as possibilidades de brincadeira no quintal. Inspiração para a oficina das Crianças!

 Aha!
Onde está Wally? Digo, onde está Demétrio???


Tarzãs do dia!!!
Adivinhem a altura em que se encontra o rapaz abaixo...

 



 Pois é.


E eu, tocando sininho loucamente, anunciando o almoço... achei que comida podia ser algo atraente para moços jovens e cheios de energia, mas que fome o quê? Quem é que tira o moço la de cima? Parece a Patrícia que, quando subiu, não descia nunca mais de tão bom que é ficar lá em cima.
É isso!
Arvorismo de quintal, nova modalidade de esporte: esporte agroflorestal!


Ufa... todo mundo desceu, e vamos almoçar! Dá para perceber a felicidade no ar?


E o povo foi chegando, durante e depois do almoço: Sérgio, Fabi, Cláudia, Daniella, Laís e Daniel, Marcelo. Aliás esses últimos dois estão aí nessa foto de baixo, picando e arrumando sobre o solo a enorme quantidade de massa que veio para o chão com a poda do abacateiro. Alimento para os bichinhos fungos. Que proliferem, tornando cada vez mais vivo o solo desse lugar!  



Aqui, Lena, depois de nos ter alimentado com seu banquete feito de amor, coloca a mão na massa também na organização do material podado. Na foto ao lado, escondida no meio das folhas está a Fabiana, mostrando ao Tarcísio como se maneja um bananal.


Agora, Iago trabalha no chão, em segurança, para minha alegria! Cortar e organizar assim o material no chão faz a gente se sentir parte. Uma coisa tão simples e tão profunda. O tipo de coisa que só a poesia pode, talvez, ser capaz de descrever. Algo que não se aprende em livros nem em filmes. 
Algo que só a vivência pode nos fazer sentir. Só viver torna possível existir.


sábado, 4 de agosto de 2012

Se o que Desejamos e a Vida, por que Criamos Desertos?*

Vou lhes contar três histórias. Descubram o que elas têm em comum.
A primeira aconteceu em uma escola de ensino fundamental em uma pequena cidade do norte de Minas. Fiquei muito intrigada pois, apesar do espaço disponível, não havia árvores. O ambiente era árido e poeirento e as crianças não tinham outra alternativa a não ser brincar sob o sol escaldante. Perguntei. Uma professora me contou que, pouco tempo atrás, haviam sido plantadas algumas árvores. Entretanto, durante as férias escolares, todas as elas haviam sido cortadas por medo de que, quando estivessem grandes, as crianças subissem, caíssem e se machucassem!
A segunda história acontece todos os dias em todos os lugares onde quer que haja araucárias. Vários agricultores em Minas e no Paraná me contaram ser muito comum que qualquer araucária que se atreva a nascer por aquelas bandas seja imediatamente arrancada. Afinal, a araucária é protegida por lei. Seu corte é proibido.  Então para evitar verem suas áreas serem “infestadas” por araucárias que não poderão cortar quando crescerem, arrancam-nas ainda bebês. Aliás, isso é muito comum com toda a Mata Atlântica, ecossistema também protegido por lei. Os agricultores, no temor de “perderem” áreas agrícolas para a floresta, não deixam a regeneração florestal acontecer.
A terceira história aconteceu no meu quintal. Adoro árvores. E o guapuruvu é uma de minhas prediletas. Acho-o lindo, elegante e muito ornamental. Eu sonhava em ter um no meu quintal. Para isso, vivia semeando-o em vários cantinhos até que um dia, finalmente, uma das sementes germinou e se estabeleceu. Apresentei a arvoretinha em crescimento a um visitante. No que ouvi: “mas você não tem medo de que ele caia sobre a sua casa?”. Achei incrível a pergunta. Como eu poderia me sentir ameaçada por aquela arvoretinha da minha altura? Até representar alguma ameaça, aquele guapuruvu enfeitará meu quintal por uns 8 ou 10 anos! Sua presença deixará o solo úmido e o lugar cheio de vida. Quando eu me sentir ameaçada, eu corto. Terei um monte de matéria orgânica para alimentar meu solo e certamente outro guapuruvu crescendo para substituí-lo em belezura pois não parei de plantá-los.
Percebem? Destruímos sistematicamente a vida antes mesmo que ela represente uma ameaça real. Criamos desertos por medo do suposto mal que a vida, nessas histórias representadas pelas árvores, poderá talvez nos causar em um futuro distante. Estamos dispostos a pagar o preço da escravidão consumista, mas não estamos dispostos a lidar os pequenos supostos “incômodos” que a diversidade de espécies essencial à manutenção da vida no planeta nos causam. Nos irritamos com cocôs de passarinho, com folhas do chão, com galhos ou frutas que caem. Mas não nos preocupamos com a perspectiva do aquecimento global, da desertificação ou simplesmente da solidão biológica criada pelo ambiente de aço, vidro e concreto das grandes cidades.
Creio ainda que esse seja um padrão muito comum em várias dimensões da nossa vida, seja ele afetivo ou da expressão dos nossos dons no mundo. Matamos nossas mudinhas antes mesmo de saber se darão bons frutos e boa sombra. Evitamos a vida para não sofrermos um sofrimento que nem sabemos se acontecerá... E se acontecer? Quem teve uma infância de subir em árvores sabe que o eventual (e menor quanto maior a prática) risco de um braço quebrado vale a pena. Ou não?
* texto originalmente publicado na edição de julho do Jornal mensal "Deusa Viva", da Teia de Thea (www.teiadethea.org)