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sexta-feira, 25 de março de 2016

A Morte do Solo

Como nos ensinou Ana Primavesi, um solo morto é incapaz de sustentar a vida. Mas como é que se mata um solo? Há muitas formas, sendo o desamor a principal delas, mas vou dar destaque às duas mais impactantes no curto prazo: o fogo e os biocidas. Ambos largamente utilizados e/ou defendidos por sem número de almas distantes das coisas do amor e da vida. 

O fogo, em fração de segundos, assassina os bilhões de seres que vivem na superfície e nos primeiros centímetros do solo. Repovoar e reorganizar a vida no solo depois de uma queimada pode demorar anos ou décadas. Porque, além de provocar a morte imediata dos seres vivos, o fogo pulveriza grande parte do carbono acumulado sob a forma de serrapilheira, assim como carbono acumulado nos primeiros centímetros que é onde encontramos a maior parte da bicharada que compõe o solo. É o carbono que dá cor escura à terra. Se o solo é claro, branco ou vermelho, tem pouca matéria orgânica acumulada. Sem matéria orgânica, todo o processo de sucessão biológica que começa com os organismos capazes de viver quase sem alimento até aqueles que decompõe a serrapilheira alimentando as plantas que nos alimentam, tem que recomeçar do zero ou quase. Até termos novamente um solo fértil e capaz de produzir alimento para esse Ser comilão que somos a espécie humana leva um tempão. É claro que podemos acelerar esse processo trazendo matéria orgânica de outro lugar... mas quem faz isso hem?

serrapilheira



Mas tão destruidor quanto o fogo é o uso dos biocidas. Fungicidas, inseticidas, larvicidas, herbicidas... todos esses cidas são substâncias criadas pelos seres humanos para matar a vida. Fungicidas matam fungos e inseticidas matam insetos, herbicidas matam plantas e assim por diante. Como pode ser que tenhamos tido uma ideia tão absurda? Pois se é a vida que sustenta a vida. Quando foi que nos desconectamos de tal maneira dos ciclos da natureza que passamos a conceber a existência de substâncias que, além de destruir seres vivos, são persistentes, demoram séculos, quem sabe milênios para desaparecerem depois que são jogados no ambiente? Agora que sabemos que nosso Planeta é finito, que o que acontece no Japão nos afeta, que os oceanos todos são um só e suas águas circulam incessantemente por toda parte, que o ar que respiro hoje amanhã estará sendo respirado por algum chinês... como podemos conceber continuarmos jogando nos solos, nas águas e no ar toneladas e toneladas de biocidas todos os dias? Meu Brasil querido é simplesmente o campeão mundial. Jogamos no ambiente mais de 4 litros de veneno por habitante! Isso significa que grande parte da vida vem sendo dizimada assustadoramente. E para quê afinal de contas, fazemos isso? Uma biofobia generalizada atingiu a humanidade. Insanidade.

Fala-se muito do desaparecimento das abelhas. Elas nos são tão úteis e visíveis que seu desaparecimento logo nos chamou a atenção. Mas são apenas a ponta de um imenso iceberg. Nada estamos vendo do massacre das microvítimas que vivem no solo... fungos, bactérias, insetos, larvas, aracnídeos, opiliões, minhocas, bezouros, anelídeos... uma infinidade de bichos, do solo e do ar, de todas as cores e tamanhos estão desaparecendo, sendo extintos na mesma velocidade que a onça pintada e o mico-leão de cara dourada. Mas ainda encontramos alguns deles, visíveis na fase adulta, perambulando por aí. Isso se não tocarmos fogo nem jogarmos veneno é claro. Flagrei alguns no meu quintal. E sempre me emociono quando dou de cara com algo tão sofisticado, belo e evoluído assim: