Fui ao supermercado comprar filtro para fazer café. Olhei na prateleira e logo vi a marca que costumo comprar... em confiança. Nem li nada, fui pelas cores e pelo nome. Afinal tudo é planejado para fazermos exatamente isso, não é?
Quando cheguei em casa e tirei o filtro do pacote, senti que era diferente. Ops... Era igual a um que, certa vez comprei, inadvertidamente. Era de outra marca. E não era de papel. Naquela ocasião, quando fui ao supermercado, olhei a embalagem e vi, em um círculo, escrito: “Lavável 5x Reutilizável”. Ecológico. Como busco ser uma consumidora responsável, isso chamou minha atenção e comprei o tal filtro. Ao chegar em casa, constatei que era “ecológico” porque era de TNT (Sintético ou natural? Existe mesmo TNT de fibras naturais? Enviei mensagem para o fabricante de TNT e ainda não me responderam) e, por isso, reutilizável!!! Naquela época fiquei furiosa por ter sido tão enganada. Comprei um negócio pensando que era ecológico e era de plástico*. Muitos plásticos, segundo muitas pesquisas, liberam oxidantes cancerígenos quando submetidos a altas temperaturas. Chá de análogos de estrogênios. É isso que podemos estar tomando quando utilizamos esse tipo de material como filtro de café. Será o caso do TNT? Eu não sei. Pode ser que não. Ou pode ser que sim. Tanto faz, afinal, eu não preciso correr esse risco. Posso usar papel, que depois de usado e cheio de borra de café vira o melhor adubo para o meu quintal. E na embalagem do tal filtro de TNT, querem nos convencer de que isso economiza o corte de árvores!!! Como podem ter a coragem de dizer isso ao consumidor incauto? E logo àquele consumidor que quer ser bacana, honesto, que quer cuidar do planeta? Aquele tiquinho de papel, comparado ao papel da embalagem e de tudo o que a empresa usa de papel ao longo dos seus processos... Esse fabricante “ecológico” está realmente preocupado com as árvores que serão supostamente poupadas?
E sobre a suposta economia de corte de árvores?
Se quisermos ter papel no médio e longo prazo, temos que plantar florestas. E isso não é bom? Ou é melhor usar o plástico que vai demorar séculos para desaparecer na natureza, com suas micro-partículas boiando e se espalhando pelos mares e oceanos? Será que é melhor usarmos o plástico que prescinde a necessidades de florestas para, assim, não precisarmos mais nos preocupar em conservá-las e plantá-las? Será mesmo que é melhor substituirmos tudo por plástico e ficarmos independente das árvores?
Voltando ao início da nossa história...
Quando me dei conta de que esse filtro comprado agora era como aquele da primeira vez em que fui enganada, parei. Calma... Eu podia estar enganada. Procurei na embalagem o material de que era feito o filtro. Não havia. Isso mesmo, na embalagem não está escrito do que é feito o material pelo qual passará a água quente do nosso café! Vou pesquisar, mas acho que isso é ilegal. Fiquei furiosa por ter sido enganada novamente. E, dessa vez, por uma marca que eu tinha escolhido depois do primeiro episódio justamente na busca de filtros de papel. Calma... é melhor ter certeza do que é feito o filtro de papel e saber se é plástico mesmo. Tentei ligar no número de telefone que está na embalagem e ninguém atendeu.
Primeiro, pensei em processar. Depois pensei que seria perda de tempo e não deveria me envolver tanto com isso. Depois decidi comprar um filtro de papel, fazer um café e pensar com calma no que faria.
Voltei ao supermercado e fui às prateleiras dos filtros para fazer café. Pasmem... Havia uma única marca com filtros de papel. Todas as outras anunciavam em suas caixinhas as maravilhas de seus filtros ecológicos que podem ser usados até 5 vezes!
Dei-me conta, mais uma vez, de como o plástico está invadindo tudo. Estamos deixando que substituam tudo por plástico. Montanhas e montanhas de plástico. Toneladas, bilhões de toneladas!!!
Não será melhor para Mãe Terra se cobrirmos o Planeta de florestas produtivas e usar sua madeira, sua biomassa que acumula carbono, para as nossas necessidades humanas. Ela apodrece? Que ótimo! Teremos sempre que plantar mais e mais florestas. Porque queremos, supostamente, que as coisas durem para sempre?
Que engraçado, no argumento de que queremos que as coisas durem mais, ou para sempre, usamos o plástico em todos os lugares. Só que duram para sempre até quando não nos sirvam mais. Que paradoxo. Aí, ficarão “para sempre” por aí, poluindo terras, mares e oceanos. Ao mesmo tempo, usamos o plástico em todos os descartáveis porque não queremos que as coisas durem para sempre... queremos as facilidades e a rapidez, queremos economizar tempo e não precisar mais lavar a louça.
Isso me lembra outra estória, de um casal de amigos que queria que eu julgasse um caso:
- ela quer jogar fora o colar que lhe dei.
- o colar é de sementes e está desmanchando.
Já que me pediram, dei meu veredicto:
- Mas que bom, assim as sementes em apodrecimento (desde que a pintura seja feita com pigmentos e resinas naturais) adubam a terra, fecham seu ciclo e você poderá presenteá-la com um novo colar...
Que surjam e se multipliquem os negócios realmente sustentáveis, os negócios realmente ecológicos!
* uso, aqui, o termo "plástico"como tudo o que é sintético feito a partir de derivado de petróleo.