Toda manhã de sábado, tomo café-da-manhã em uma padaria de
Santa Maria, um pouco antes de nossa oficina semanal de jardinagem
agroflorestal. Nessa padaria, tem uma televisão. Quando bati o olho na tela, alguns sábados atrás, havia muitas borboletas coloridas. Lindas imagens. A moça dizia: “é tempo de borboletas...”. Uma borboleta
aparece botando ovinhos. Fico encantada de mostrarem isso e não tiro o olho da
tela. Principalmente porque sou fascinada por lagartas. Meus pensamentos
aceleram: “será que mostrarão as lagartas?”. E a moça continuou: “As borboletas
colocam os ovos e dos ovos surge... o casulo (junto com a imagem de um
casulo)”. Fico estarrecida. O que fizeram com as lagartas? Como puderam, nesse
vídeo, dizer às pessoas, às crianças, que do ovo surge o casulo? Por que não
mostraram as lagartas? Indiferença? Nojo? Medo? Será que é por isso que somos capazes de
envenenar o solo e nosso alimento com agrotóximos para nos livrarmos de
todas elas? Que fobia é essa de um bichinho tão pequenino e belo? Já notaram os
desenhos? O formato dos pelos? As cores? Os disfarces incríveis? As
extravagâncias? Se ainda não notaram, dêem uma olhada aí embaixo, logo depois do texto (ou aqui no blog procurando
pela palavra-chave lagartas - fotos
de várias das que vivem em Abaetetuba, quintal agroflorestal onde vivo) . Se são tão
belas, por que as pessoas têm tanto horror às lagartas? Uma razão racional
parece ser o fato de elas se alimentarem de folhas. E muitas vezes, folhas de
alguma planta que gostamos muito. Então concluímos que as lagartas são pragas.
Um desses seres terríveis que destroem o que plantamos. Seres maus que
atrapalham nossas colheitas e a beleza do nosso jardim. Ledo engano...
As lagartas, assim como as formigas e todos esses bichinhos
que a maior parte das pessoas chama de praga, fazem parte do que minha amiga Patrícia Vaz
chama de “departamento de otimização dos
processos de vida”. Pedro, um agricultor do Vale do Ribeira (SP) explica
isso dizendo que esses bichos todos são nossos mestres, pois eles nos mostram onde
foi que erramos no plantio ou no manejo. Pois é, a gente vai aprendendo com a
prática. E erra muito. Então, quando plantamos alguém no lugar errado ou na
hora errada, os bichinhos vão lá e fazem o favor de tirar a planta daquele
lugar porque ali não está bom para essa planta e ela, provavelmente, também não
será favorável para aquele lugar. Também tem outro tipo de situação. Algumas
lagartas simplesmente fazem uma faxina geral de vez em quando. Podam todas as
folhas e a planta rebrota cheia de folhas novas e saudáveis que, quando velhas,
serão novamente podadas pelas trabalhadoras lagartas. Além disso, as lagartas,
assim como as minhocas, transformam, na sua digestão, as folhas em adubo. Tudo
de bom. Mas... mesmo que as lagartas fossem feias e não servissem para nada,
definitivamente, é muito importante que todos saibam e as crianças aprendam
desde cedo que sem lagartas, não existem
borboletas, assim como não existem adultos se não existirem bebês. Simples
assim. E sem borboletas, perderemos não somente a beleza das suas cores e a elegância
do seu vôo. O mais grave é que muitas e muitas flores deixarão de ser
polinizadas. E sem polinização, não há frutos (desses que a gente gosta de
comer também). E sem frutos, não há sementes. E sem sementes não há possibilidade
de continuidade da vida. Simples e dramático assim.
Portanto, observemos o lindo trabalho que as lagartas fazem
e sejamos gratas por sua existência, por sua beleza e pela possibilidade que
temos de observá-las.
Abaixo, fotos das incríveis lagartas da Vila das Crianças. Todas essas fotos foram feitas pelas nossas lindas e queridas alunas.