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terça-feira, 28 de maio de 2013

Jardinagem Agroflorestal no CEMEIT - Taguatinga-DF

28 de maio, segunda oficina de jardinagem agroflorestal com jovens da EIT, Centro de Ensino Médio de Taguatinga-DF. Foi um convite do projeto Mapa Gentil (http://mapagentil.com.br), realizado pelos meu amigos e parceiros do Faísca Associação Cultural e pela Flávia, professora daquelas que nasceram para isso, vocacionada, entregue, inteira. Integrando-me, por meio da jardinagem, ao projeto e à EIT, começo devagarinho, ainda em processo de aproximação, sedução, conquista. Compartilho algumas imagens dessa nossa pequenina e riquíssima oficina (todas as fotos, com exceção das 2 últimas, foram feitas pela Ana Carolina Lima, aluna da EIT e participante da oficina):

Uma breve rodada de apresentação para sabermos os nomes uns dos outros. Que barato fazer uma atividade envolvendo alunos e professores para aprendermos juntos!
Eu levei uma terra rica em matéria orgânica do meu quintal. Assim, pudemos observar a diferença com relação à terra do canteiro onde resolvemos fazer nossa intervenção. Foi um bom pretexto para conversarmos sobre a importância da vida no solo.
Primeiro passo: tirar toda a sujeira do canteiro.
Lixos diversos foram encontrados. 
Segundo passo: podar galhos e folhas velhos e secos. Aqui mostro como fazer.

E aqui o Rafael pratica, podando um galho seco da azaléia...
... e folhas velhas da agave dragão.
Depois de fazermos uma capina seletiva, Flávia e Ana Clara espalham o adubo orgânico sobre a terra do canteiro. 
Isabela mistura o adubo na terra e planta flores para o canteiro ficar alegre e colorido. 
Quase terminamos... penúltimo e dos mais importantes passos: cobrir o solo com matéria orgânica. Mas... não havia fonte de matéria orgânica na escola. E agora? Isso será tema da nossa próxima oficina, porque cobrir bem o solo é condição essencial para fazermos uma jardinagem realmente ecológica.
Flávia semeia salsinha, uma das poucas hortaliças que suporta meia-sombra. Afinal, também é essencial inserirmos plantas comestíveis nos nossos jardins!
Antes e durante a prática, conversamos sobre a função de cada ferramenta utilizada na jardinagem agroflorestal, sobre o conceito de Permacultura e de Cultura, sobre a poda das plantas como estratégia de dinamização dos sistemas, sobre a função da meso e microfauna do solo e também sobre os desafios culturais para o cultivo de jardins agroflorestais na cidade, já que esses exigem um solo densamente coberto e cheio de vida. As perguntas foram muitas... o que demonstrou o interesse dos participantes!

Agradeço o preciosa participação de cada um dos que estiveram presentes e ao Ministério da Cultura que, por meio do Prêmio Tuxaua, apóia minha participação nesse projeto tão desafiador quanto inspirador.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Quintais e Crianças: Vida e Movimento*

Tudo o que é vivo está em constante movimento.
Até o que parece, a primeira vista, estático, como por exemplo uma planta ou uma rocha, assim parece somente porque a escala de tempo dos humanos é diferente da escala de tempo desses Seres. As rochas se movem, racham, deslocam-se, acumulam matéria e crescem, são intemperizadas e transformam-se em solo. Muitos afirmam que rochas são seres vivos.
Há um filme na internet feito a partir de imagens da série VIDA da BBC, narrada por David Attenborough (http://vimeo.com/26332964). Filmado ao longo de dias, meses, ou quem sabe anos, os realizadores mostram o delicado e sutil movimento das plantas. Em seu crescimento, exploram espaços, sobem e descem, abrem-se em flores coloridas. Mas olhos atentos podem ver o movimento das plantas mesmo sem que seja necessário acelerar as imagens como nesse filme maravilhoso.
E as crianças? A definição de criança é movimento. Elas necessitam do movimento para crescerem. Tendo a acreditar que crianças educadas em ambientes e culturas muito sóbrios e rígidos, nos quais não podem se movimentar livremente, tendem a se tornar adultos tristes. Se existe algum estudo a esse respeito, gostaria de conhecê-lo.
Pedagogos, educadores e psicólogos que trabalham com educação infantil são unânimes em dizer que o movimento é essencial para o desenvolvimento intelectual e cognitivo da criança, assim como o é para seu desenvolvimento físico. Para a criança pequena, o movimento é a forma de conhecer o mundo e de se comunicar. Portanto, as crianças não ficam se mexendo o tempo todo só para irritar os adultos (apesar de muitos pensarem e sentirem assim). Elas se mexem porque o movimento é necessário à oxigenação de suas células. Elas se mexem o tempo todo porque tudo lhes interessa. Oxigenadas, suas células são ávidas por conhecer, experimentar, vivenciar, viver. Seu corpo exige a movimentação constante para que os músculos se estendam, para que suas veias e artérias se estiquem, para que suas sinapses se formem. Seu corpo exige o movimento, para ficar forte e sustentar os ossos que crescem e o seu próprio peso, que aumenta a cada dia. Deixar que a criança experimente e vivencie o movimento livre e natural do seu corpo é essencial para que uma criança cresça feliz e equilibrada.
O quintal agroflorestal, ele também está sempre em movimento.
Vejo que muitos têm a expectativa de que chegará o dia em que o quintal estará pronto. Isso não existe. A menos que seja gasta uma quantidade enorme de energia para mantê-lo estático. Além de podas frequentes, seria necessário utilizar adubos químicos e venenos sistematicamente para evitar o movimento do jardim. Criaríamos assim jardins frios e hidrofóbicos, que rejeitam a água e a vida.
Se o que desejamos é a vida em abundância e se o que desejamos é viver em consonância com o fluxo da vida, é necessário deixarmos a sucessão acontecer, as espécies se substituírem, plantas morrerem e outras surgirem.
Um quintal agroflorestal muda o tempo todo. Quando começamos a acumular vida no solo, deixando-o abundantemente coberto com folhas e galhos (serapilheira), as sementes trazidas pelo vento, pelas aves, morcegos e todo pequeno animal que passar por ali germinam. Se for hábito levar para o quintal agroflorestal todo o resto orgânico da cozinha, inclusive caroços e sementes, então tomates, abóboras, manga, mamões e toda fruta que gostamos de comer brotarão magicamente no quintal. Em um quintal agroflorestal vivo e dinâmico, uma horta se transforma em pomar, o pomar volta a ser horta. A touceira de banana se expande, anda, e ocupa novos cantos do quintal deixando para trás solo fértil e mudas de frutíferas em crescimento. Árvores antigas se tornam adubo e ornamentais de sombra se expandem em espaços onde antes havia sol em demasia para elas. Em um quintal em movimento, nosso papel é o de espalhar sementes e estacas por todo o canto e observar a linguagem das plantas que vão nos mostrando os melhores ambientes para cada uma, as interações mais felizes com suas vizinhas. A partir dessa observação, podemos, com nossa intervenção, por meio do manejo, atuar de forma positiva, acelerando o movimento e o acúmulo crescente de vida e abundância.
Por tudo isso, um projeto de quintal agroflorestal é somente uma referência, um guia, uma direção a seguir, um lugar por onde começar, um destino fictício a nos orientar.  Não se deve ter a expectativa de conseguir fazer um desenho exato de como estará o quintal daqui a 10 anos. Isso seria ter a boba expectativa de que podemos determinar exatamente como serão nossas crianças daqui a 10 anos. Tentativa infrutífera que pode ter como consequência a frustração. Estejamos abertos ao novo, ao inesperado, ao movimento. Que venham as sementes trazidas pelas aves que descansam nos galhos das nossas árvores, que germinem aquelas que vão junto com o resíduo orgânico da nossa cozinha. E que todas as crianças do mundo tenham o direito de movimentar-se e tornar-se exatamente aquilo que fará delas pessoas felizes. 

 chuvas de jan de 2011

seca de maio 2013
* Originalmente publicado na edição de abril/2013 do Jornal Deusa Viva, da Teia de Thea (www.teiadethea.org)