Estamos em Dezembro. Não chove há quase uma semana! No
quintal, as plantas secam.
Penso logo nos agricultores que plantaram somente há duas
semanas. Penso nas sementes recém germinadas, nas pequenas plantinhas surgindo.
As raízes ainda pequeninas não estão prontas para buscar a água do fundo da
terra. O seu corpinho ainda não acumulou água suficiente para agüentar mais que
três ou quatro dias sem chuva. Uma semana sem chover pode ser fatal. Se isso
acontecer, todo o esforço e as sementes serão perdidos. E se só havia aquelas
sementes? E se não houver mais sementes guardadas para plantar? E se aquela
variedade adaptada àquele lugar vem sendo plantada incansavelmente ano após ano
há muitas gerações? De repente, uma semana sem chuva faz desaparecer para
sempre aquela combinação de genes selecionados durante tantas gerações de
plantios e colheitas...
As chuvas começaram tarde esse ano. Um mês mais tarde do que
no ano passado. Mas quem plantou, disciplinadamente, na primeira semana de
chuvas, no meio de novembro, provavelmente não perderá sua colheita. As plantas
talvez sofram um pouco com esse veranico fora de hora, mas com quase um mês e
meio crescendo no solo, estarão grandes o suficiente para terem acumulado a
água que as manterá vivas durante alguns dias de inesperada seca. As raízes já
afundaram no solo e conseguem acessar a água que se acumulou sob a superfície
com as primeiras chuvas intensas. Se o solo estiver coberto com matéria
orgânica, melhor ainda e maiores as chances de sobrevivência. É nessa hora que
um solo coberto faz toda a diferença!
É claro que aqueles que podem ter um sistema de irrigação
nada sofrem, mesmo que tenham plantado um pouco mais tarde. Mas quem pode? A
agricultura familiar que cuida das variedades adaptadas localmente ou as
empresas rurais que plantam sementes hibridas e transgênicas? Está claro quem
mais sofre com as consequências das mudanças do clima? E qual o custo ambiental
dos sistemas de irrigação? Quando sabemos que 70% da água potável vêm sendo
utilizados para a irrigação dos cultivos e que, aos poucos, os aqüíferos
superficiais e de sub-superfície vêm sendo aceleradamente esgotados e poluídos,
podemos concluir que quem pagará esse custo não é quem irriga hoje, mas sim
nossos filhos e netos que não terão água para beber se continuarmos explorando
os recursos hídricos da forma como estamos fazendo atualmente.
Conhecer os ciclos da natureza é, há milênios, mais do que necessário.
É uma questão de sobrevivência. Quem foi disciplinado e conhece os ciclos da
natureza, plantou no meio do mês de novembro. E não plantou todas as sementes
que tinha. Quem se atrasou, por um motivo ou por outro, e não dispõe de um
sistema de irrigação, está a ver suas plantas morrerem com esse veranico fora
de hora.
Há o momento certo de plantar para que a colheita seja
abundante. O momento de plantar – literalmente – as roças que nos alimentarão
em 2013 coincide, no nosso calendário romano, com o final de um ciclo solar,
momento de parada para as festas de fim de ano e, para muitos, momento de tirar
férias e descansar. Momento também de plantar nossos sonhos e, mais do que
isso, colocar a semente de fato na terra, no momento certo, disciplinadamente,
sem adiarmos nenhuma semana. Assim, nenhuma seca inesperada nos pegará de
surpresa. Nossas plantinhas já estarão em franco crescimento, forte e
resistentes e aguentarão alguns dias de veranico.
* Originalmente publicado na edição de dezembro do Jornal "Deusa Viva", da Teia de Thea (www.teiadethea.orgwww)
* Originalmente publicado na edição de dezembro do Jornal "Deusa Viva", da Teia de Thea (www.teiadethea.orgwww)